Mundo corporativo e o sofisma da liderança
Por Sílvio Latache de Andrade Lima
Publiquei, no ano passado, em uma rede social corporativa, um breve artigo intitulado “Advogado especialista ou generalista, uma falsa dicotomia”, no qual abordei, de forma crítica, a superestimação do advogado “superespecializado”. Na ocasião, não critiquei (nem poderia) o profissional que se aprofunda na sua área conhecimento, mas sim aquele que renuncia ao conhecimento generalista ou multidisciplinar em prol de uma visão, exclusivamente, micro.
Hoje, de igual forma, remando contra a maré, pretendo lançar luz para a superestimação da figura do líder (não incluindo aquele que é líder de si, mas sim de equipes, de líderes, de funções, de negócios ou de empresas[1]).
Esse profissional é absolutamente necessário e deve ser valorizado por isso. Acredito que, aqui, o leitor deva concordar comigo. Meu ponto de inflexão, no entanto, refere-se à exclusiva valorização do líder e o pouco prestígio social que é conferido ao liderado (que pode ser líder de si mesmo e exercer influência sobre os colegas e os rumos da empresa).
Já parou para observar a quantidade de postagens sobre liderança em redes sociais corporativas? E a quantidade de cursos ofertados e podcasts produzidos? Em contrapartida, é raríssima qualquer alusão ao liderado.
É certo que o líder, geralmente, acaba desenvolvendo, de forma bastante aprofundada, habilidades de gestão, solução de conflitos, feedbacks, delegação, direção etc., o que, em determinadas profissões, acaba lhe levando a um exercício profissional cada vez mais distante da sua profissão primeva. É nesse momento, então, que a figura do liderado (com perfil técnico) assume papel essencial na engrenagem da corporação.
Ora, um médico que é diretor de um hospital, e que diminuiu, ao longo dos anos, sua praxe operatória em prol da administração do nosocômio, não seja, talvez, mais habilitado que um médico plantonista, que atua diariamente e é especialista na realização de determinado procedimento. O referido exemplo também pode ser aplicado à advocacia, ou em qualquer outra profissão, em situações análogas.
Já parou para observar a quantidade de postagens sobre liderança em redes sociais corporativas? E a quantidade de cursos ofertados e podcasts produzidos? Em contrapartida, é raríssima qualquer alusão ao liderado.
Outrossim, ao considerarmos que as atribuições diretivas de um líder acabam afastando esse profissional do exercício imediato de sua profissão, consoante alertado anteriormente, seria justo defender que um profissional vocacionado, reconhecido por seu conhecimento técnico em sua área de atuação, e que contribui estrategicamente para a excelência dos serviços prestados pela empresa, precise assumir cargos de liderança para receber os melhores salários?
Tenho sérias dúvidas sobre esse questionamento. Talvez, os sociólogos do trabalho possam me ajudar a compreender a lógica da não valorização do liderado. Por ora, no entanto, socorro-me da filosofia, para quem o sofisma pode ser compreendido como argumentação verossímil, mas que apresenta falhas lógicas. Ou, ainda, pode ser que nem existam verossimilhança e falhas lógicas, mas, apenas, um nicho de mercado para alguns vendedores do sonho da liderança.
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