O Amor, vacina contra a pandemia da indiferença
Por Dom Antônio Fernando Saburido
Neste momento, no qual todo mundo espera as vacinas contra a pandemia da Covid-19, cada vez mais descobrimos que precisamos superar também os vírus da desigualdade social, do racismo, do preconceito religioso e deste clima de intolerância que devasta a sociedade e não permite diálogo. Cada vez mais se torna urgente buscar algum antídoto para a epidemia do desamor e reencontrar motivos para retomar a fé na humanidade. Só assim poderemos alcançar a cultura da fraternidade humana e da amizade social, proposta pelo papa Francisco, em sua recente encíclica Fratelli Tutti.
Recentemente, o mundo recordou o aniversário do martírio do Mahatma Gandhi, assassinado na Índia, no dia 30 de janeiro de 1948 por seu testemunho de luta não violenta contra a discriminação de classes e por sua insistência no diálogo entre hindus e muçulmanos. Que a memória da sua vida e da sua mensagem de paz e não violência possam nos ajudar. Ele gostava de afirmar: “Este mundo tem todas as riquezas capazes de alimentar e sustentar a humanidade e todos os seres vivos. No entanto, é pouco demais para saciar a ambição dos prepotentes”. E a cada discípulo, insistia: “Comece por você mesmo a mudança que propõe para o mundo”.
Nas Américas, a luta pela igualdade racial nos Estados Unidos, conduzida pelo pastor Martin-Luther King, teve esse mesmo espírito. Na América Latina, muitos movimentos sociais têm se firmado neste método proposto por Gandhi: a não violência ativa como instrumento de luta pacífica pela justiça e pela libertação dos povos. Na Argentina, Adolfo Perez Esquivel, arquiteto, escultor e ativista cristão pelos Direitos Humanos, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Também, em 1992, Rigoberta Menchu, índia Maya da Guatemala foi agraciada com o mesmo prêmio por sua luta pacífica pela libertação do seu povo e sua mensagem de esperança para todo o continente.
Neste domingo, 07 de fevereiro, a nossa arquidiocese recordou o aniversário de nascimento de Dom Helder Camara, que dedicou toda a sua vida a semear a cultura da paz, baseada na ação não violenta pela justiça. Ele gostava de afirmar: “Se, para serem levadas nos ombros, as pessoas te pesam, carrega-as no coração”.
Há quem pense na Espiritualidade como algo separado da vida. Ao contrário, a fé cristã nos assegura que este caminho se realiza pela graça divina e é totalmente gratuito e acessível a todos. Basta querer e aceitar o chamado divino que nos manda espalhar amor e solidariedade pelo mundo
Nesta próxima quarta-feira de cinzas, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC, que reúne sete Igrejas cristãs no Brasil, abrirá a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica que tem como lema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. Há quem pense no amor como sentimento. Isso existe em determinada forma de amor que liga as pessoas apaixonadas. No entanto, mesmo neste caso, o amor vai além do sentimento. É atitude de vida, posicionamento interior, opção consciente que não depende apenas de emoções passageiras e sim, como ensina esta Campanha da Fraternidade, é compromisso de vida e caminho espiritual de amadurecimento humano.
Há quem pense na Espiritualidade como algo separado da vida. Ao contrário, a fé cristã nos assegura que este caminho se realiza pela graça divina e é totalmente gratuito e acessível a todos. Basta querer e aceitar o chamado divino que nos manda espalhar amor e solidariedade pelo mundo.
Conta o filósofo, escritor e pedagogo austríaco, naturalizado israelita – Martin Buber, no seu livro ‘Histórias do Rabi’: “Na tradição judaica, em uma noite na sinagoga, alguns homens estão sentados à espera do novo dia. Um velho sábio encontra-se rodeado por alguns discípulos. Então, o sábio pergunta: Quando é que nós conseguimos reconhecer o momento em que a noite se completa e o novo dia desponta? Um discípulo toma a palavra e diz: Quando as estrelas desaparecem no céu e a terra passa a ser acariciada pelos raios do sol. Não, responde o mestre. Outro discípulo corrige: Então, quando conseguimos distinguir à distância, sem qualquer dificuldade, um cão de um carneiro. Não, diz de novo o mestre. Mas quando então? Perguntam em conjunto os discípulos. Depois de um instante de silêncio, o velho sábio responde: Tu reconhecerás o momento em que o dia desponta quando, contemplando o rosto de um homem qualquer, nele reconheceres o teu próprio irmão. Caso contrário, no teu coração será ainda noite”. Guardemos no coração esse ensinamento e o pratiquemos.
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