Os problemas do principal cartão postal do Recife
Por João Alberto Martins Sobral
O Recife tem muitos locais bonitos, como o Marco Zero, a Rua da Aurora, o rio Capibaribe, o Cais José Estelita, mas há muitos anos a Avenida Boa Viagem se transformou no principal cartão postal da cidade. Ponto de visita obrigatória de todo turista, inclusive porque estão nela nossos principais hotéis. De uma área onde existiam apenas casas de veraneio surgiu, a partir da construção do saudoso Hotel Boa Viagem, um bairro moderno, dinâmico. Tornou-se, inclusive, um showroom da arquitetura pernambucana, tantos os edifícios bonitos que tem, alguns históricos, como o Califórnia, o Cassino Americano, o Acaiaca, o Caiçara, o Castelinho e o lamentavelmente praticamente destruído Holiday.
Foi cenário de grandes eventos como o Recifolia, o “Vamos Abraçar o Sol” (os mais velhos certamente lembram daquela verdadeira farra ao ar livre), o Bloco da Parceria, o Verão da Band, o Camburão da Alegria” e os que ainda podem ser realizados na avenida, a Parada Gay e dois ou três eventos religiosos, além do réveillon, em dois pontos, no Acaiaca e Polo Pina. E de grandes crises, que afastaram os banhistas: da cólera (que o então governador Joaquim Francisco acabou, ao tomar banho na praia) e dos ataques de tubarão, que até hoje prejudicam o turismo de lazer na nossa cidade. E houve até projeto de fazer nela uma corrida Fórmula Indy, iniciativa de Luciano do Vale. E também cenário do premiado filme de Kleber Mendonça Filho Aquarius.
O quadro hoje da Avenida Boa Viagem deixa muito a desejar. Primeiro pela falta dos turistas estrangeiros no calçadão, depois que o turismo da cidade se tornou muito mais de negócios do que de lazer (transferido para Porto de Galinhas), pelo estado deplorável dos quiosques. Os atuais foram construídos há muitos anos, enfrentam problemas de segurança e deixaram, como no início, de vender apenas coco, hoje vendem de tudo, a começar de bebidas. Durante algum tempo, funcionavam até de madrugada, prejudicando o sono dos moradores e sendo palco de muitas confusões. Felizmente, o horário de funcionamento foi limitado às 22h.
Tem até um que virou franquia de uma rede de açaí. De vez em quando aparecem projetos de reforma, os mais recentes destacando o jogo lego e a literatura de cordel, dois temas pouco recifenses. Deveria, na verdade, ser feito um concurso com os arquitetos recifenses para definir o novo projeto. Não custa lembrar que nossa cidade é um celeiro de grandes arquitetos.
Há alguns anos, o piso de pedras portuguesas foi substituído por intertravados. Que, sem a manutenção devida, estão em péssimo estado. E ninguém sabe onde foram parar as pedras portuguesas. Recentemente, foram reformados os bancos de cimento. Já os postos de salvamento ganharam grafites interessantes. É bom lembrar que o bairro tinha divisões, exatamente citando o número destes postos. Era o Posto 1, Posto 2 etc.
De repente, surgiram, na areia edificações de madeira, logo batizadas de “Casas de Tarzan”. Tinham salva-vidas vidas e policiais. Hoje, a maioria está abandonada, servindo de moradia para sem-teto e, infelizmente, para pontos de consumo de drogas. Outro problema do calçadão da avenida é o grande número de assaltos, muitos praticados à luz do dia, por ladrões usando bicicletas e levando celulares e cordões de outro. Aliás, são muitos os que não se separam do celular nem quando vão caminhar. Ficam falando o tempo todo, facilitando a ação dos assaltantes.
Uma bela ação do governo do estado foi o projeto Praia sem Barreiras. Foi construído um toldo para receber deficientes físicos, que tinha à disposição cadeiras especiais para tomar banho de mar e instrutores treinados. Pena que esteja suspenso devido à pandemia.
Os banheiros representam outro problema. Primeiro pela localização, bem em frente a ruas transversais, tirando a visão do mar de quem vem nela. O estado deles é simplesmente deplorável. Tão ruins, que melhor seria destruí-lo para construir outros melhores. Com estardalhaço, foi anunciada a construção de dezenas de chuveiros, as obras até começaram, mas nunca mais se ouviu falar deles. Já os chuveiros instalados por comerciantes, continuam sendo muito usados pelos banhistas, apesar da sua água ter sido condenada por vários exames feitos pela UFPE.
Os moradores da área assistem todo dia a um espetáculo triste: os barraqueiros que alugam toldos e cadeiras, conduzem suas pesadas carroças, toda manhã e toda tarde, para guardá-las em locais perto. Dá pena.
A marcação da pista de cooper está apagada faz tempo. Os poucos policiais que aparecem no calçadão fecham os olhos para as muitas pessoas, que mesmo existindo a pista própria, insistem em andar de bicicleta e skate no calçadão, colocando em risco os caminhantes. Que, aliás, já começam a ver outro problema: o avanço do mar, exigindo, em algumas áreas, uma recomposição de areia, como foi feita em Piedade.
O quadro hoje da Avenida Boa Viagem deixa muito a desejar. Primeiro pela falta dos turistas estrangeiros no calçadão, depois que o turismo da cidade se tornou muito mais de negócios do que de lazer (transferido para Porto de Galinhas), pelo estado deplorável dos quiosques
Em tempos de pandemia, houve um liberou geral na Avenida. São poucos os que obedecem à lei que obriga o uso de máscara. Na areia, então, quase ninguém, nem mesmo os ambulantes que servem bebidas e comidas, um perigo. Claro que por falta de fiscalização.
Confesso que fiquei triste até chegar aqui, só mostrando problemas. Apesar deles, a Avenida Boa Viagem continua linda, uma das mais belas praias do Brasil. E, para não negar que sou recifense por ato da Câmara Municipal, com nossa conhecida imodéstia, a mais bonita do mundo. Sobre os problemas, o nosso jovem prefeito João Campos me prometeu que vai fazer uma reestruturação total no local.
Comente este artigo