Auxílio emergencial pago nas agências da Caixa Econômica. Se for encerrado, crise ficará ainda mais aguda

Pode o pior piorar?

Por Tarcisio Patricio e Roberto Alves

Publicado em Economia e negócios | 18/03/2021

Retrato deste país “deitado eternamente em berço esplêndido”, e sempre “o país do futuro”. Entre 2011 e 2020, o PIB nacional cresce a uma média anual quase nula (0,3%). O pior feito em mais de 100 anos.

Em 2019, pré-pandemia, o Brasil – que poderia ter feito obra muito melhor – manteve o pífio padrão de 1,0%. A crise sanitária agrava esse cenário e impõe, em 2020, recessão de -4,1%.

Não fossem programas emergenciais de renda (desempregados e estratos sociais mais pobres) e de crédito (para pequenas e médias empresas), a retração teria sido mais severa.

Ademais, em 2021, o alívio poderia ser maior – se sem interrupção do auxílio emergencial. E se não imperassem negacionismo, omissão e cálculo político do presidente, que deixa a tarefa a cargo de governadores e prefeitos, omitindo-se (por incapaz) de oferecer uma diretriz nacional, eficiente, de combate à Covid-19.

Repetiu-se, no início de 2021, o costumeiro otimismo destes últimos anos, e alguns economistas anunciaram “o pior já passou” e “forte crescimento econômico”.

Todavia, mais uma vez, impõe-se necessidade de revisão das previsões. A nova onda viral traz ao país caos inimaginável. Desemprego, pobreza e prejuízo na educação dão magnitude inédita à crise social.

Difícil de engolir é essa estranha “normalidade” de cidadãos em fanfarra de aglomeração. Não só isso. Aglomerações no transporte público diariamente superlotado, resultado de ação não-coordenada de restrições e reabertura de atividades econômicas, e insuficiente oferta desse serviço.

Somos caso ímpar de ausência de testes em massa e de rastreamento do contágio, além de atrasada e lenta vacinação. Assumimos o posto de epicentro da pandemia global. Catástrofe perfeita. “Saiba como age o vírus em ambiente favorável: visite o Lab Brasil”.

   E a política? Intragável arranjo governo-Centrão. Conveniências cimentadas por interesses aparentemente nada republicanos.

 Alguns frutos: tentativa de sagrar a PEC da Impunidade parlamentar; acordo para mudar a Lei da Ficha Limpa, aliviando-se a situação eleitoral de alguns parlamentares que respondem à Justiça; a deputada Bia Kicis já é presidente da Comissão de Constituição e Justiça; Carla Zambelli, na Comissão de Meio Ambiente. E Aécio Neves na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Os três, sob investigação, e Aécio com processos se arrastando na Lava-Jato. Até o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, sob investigação de corrupção. Mas vem aí “a salvação nacional”, Lula. Reage-se buscando alternativa democrática, antídoto à polarização nascida com “nós e eles” e agora revestida de “povo contra as elites”.

O desafio: recusa a sagrar o dito popular “Não existe nada tão ruim que não possa piorar”.

Tarcisio Patricio e Roberto Alves

Tarcisio Patricio e Roberto Alves

Tarcisio Patricio e Roberto Alves são professores aposentados da UFPE. Este artigo foi publicado originalmente na edição do JC de 27/04/2021.

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