Pratos limpos
Por Tarcisio Patricio de Araujo
Haveria país mais necessitado do “pôr as coisas em pratos limpos”? Um Brasil de incompletudes, a despeito do potencial que carrega em áreas como biotecnologia, diversificação de recursos energéticos, informática – entre outras. Prenhe de criatividade em empreendedorismo; desde a economia informal que reproduz baixa produtividade e pobreza (“informal pobre”) até o informal “rico”.
Devido a persistente atraso educacional e a desigualdade de acesso a educação de qualidade, significativa fração da força de trabalho não tem chance de ser absorvida em atividades que mais incorporam inovações tecnológicas, e busca abrigo no mercado informal. Longe de uma atividade massiva de reeducação e qualificação de mão de obra. Parcos nossos resultados nesse mister, desde os tempos de abundantes recursos do FAT.
País pobre em esforços e resultados no que respeita a avanços institucionais. Aos solavancos, sobrevivemos. Reformas institucionais parecem tema “de luxo”, abstrato, diante de gritantes pobreza e desigualdade. Que se dê a devida importância ao papel de reformas modernizantes, redutoras de privilégios e disparidades, para eliminar desigualdades bem nutridas pelo patrimonialismo do Estado.
Sendo reforma política e reforma administrativa pai e mãe de todas as reformas, é chato e revoltante vermos a aprovação – na Câmara, 278 vs 145 votos; no Senado, 40 a 33 – de um megafundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, quase três vezes o valor do das eleições municipais de 2020. Excrescência que é péssimo substituto de um funding via contribuição de empresas privadas e doações individuais – como ocorre em democracias consolidadas.
Tanta a carência de reformas institucionais indispensáveis ao enfrentamento do atraso de sempre, que é terrível adversidade um governo absolutamente avesso a avanços. O experimento de combate à Covid-19, encarando-se desídia, descoordenação e boicote do governo central – trágico contrário do bom senso – diz muito sobre a natureza deste governo. Natureza temperada por bizarro uso do espantalho do “socialismo”.
Crença em socialismo virou “religião”. Eliminação da propriedade privada é pressuposto estrutural, e a economia não funciona bem sem a propriedade privada. E para não virar selva, o mercado precisa de regulação. Óbvio revelado pela História.
Por má fé ou estupidez, ignora-se que toda experiência socialista, coletivista, fracassou. Economia totalmente centralizada pelo Estado não ganha a guerra da produtividade na concorrência internacional. A União Soviética (URSS) é exemplo clássico. E a China, capitalismo de Estado, absorve grandes nacos de capital estrangeiro, mantendo-se como ditadura de partido único. Anote-se: queda do Muro de Berlim (nov 1989), dissolução da URSS (1991), e a ditadura cubana enfrentando, no momento, manifestações de rua por pão e liberdade.
Repúblicas sindicalistas, também cosa nostra, deram errado. Em estados patrimonialistas como o nosso, o sindicalismo deu em privilégio de castas e corrupção.
Prestemos atenção a lições pedagógicas que a História oferece.
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