O que nos cabe na sociedade atual

Por João Carlos Paes Mendonça

Publicado em Economia e negócios | 06/02/2021

A pandemia mostrou uma pobreza no Brasil ainda maior do que imaginávamos. Até hoje, fico impactado com fato de o auxílio emergencial ter chegando a mais de 60 milhões de pessoas. Não vou discutir aqui se 100% dos inscritos estão verdadeiramente enquadrados nos padrões de pobreza definido. Mas, independente disso, ainda é um dado que me assusta. E fico refletindo se, diante disso e fazendo parte de um País com sérias limitações financeiras do ponto de vista do Poder Público, a sociedade ainda espera que apenas os governantes resolvam as questões sociais graves existentes em cada esquina.

Sei o quanto os dias têm sido difíceis para todos. Mas certamente são bem mais desalentadores para aqueles que não tem quase nada

O ano de 2020 massacrou as pessoas que viviam na informalidade. Nas ruas, a pobreza aumentou e continua aumentando a cada dia. E no que depender do curso normal de uma retomada econômica, são dados que vão demorar a reverter. Muitos perderam a capacidade de “investir” em si próprios porque simplesmente estão em busca na próxima refeição. A mendicância aumentou consideravelmente. Os jovens que ficaram fora das escolas vão repensar o retorno para a sala de aula porque precisaram e ainda vão precisar apoiar a família na busca pela feira, pela comida. Levá-los novamente para dentro das escolas será outro desafio cujo impacto vai ter comprometimentos por anos. Manter a escolaridade é a única forma de cada um deles mudar sua realidade social. E, mesmo assim, muitos não conseguirão voltar.

Já coloquei publicamente em outros momentos, mas não me canso de dizer. A sociedade precisa olhar para o lado e ajudar quem está perto. E pode ser qualquer ajuda. Seja um suporte educacional pontual ou com grandes estruturas financiadas pela iniciativa privada, é preciso se mover. Fazemos parte desse problema. Não podemos simplesmente fechar a porta das nossas casas e dar as costas para o que está acontecendo e se agravando. Indicadores sociais e de empregabilidade relacionados à juventude são alarmantes e ficam bem acima da média da população.

Sei o quanto os dias têm sido difíceis para todos. Mas certamente são bem mais desalentadores para aqueles que não tem quase nada. Uma cesta básica para uma família, a manutenção de empregos o quanto for possível, a criação de redes de apoio no bairro onde mora, e mais envolvimento do empresariado em ações sociais são gestos fundamentais sempre e, sobretudo, nesse momento.

É preciso atuar em conjunto com o Poder Público. Continuar com o discurso de que já pagamos muitos impostos não vai nos levar a lugar algum. Precisamos, claro, aprender a ser mais vigilantes sobre o destino dos recursos. Cobrar durante e na escolha das novas gestões. Esse é um debate que difere do que pontuo aqui. O fato é que sem a sociedade comprometida socialmente, nossa desigualdade social será tão perene quanto cruel.

João Carlos Paes Mendonça

João Carlos Paes Mendonça

João Carlos Paes Mendonça é presidente do Grupo JCPM. Atua nos segmentos de Comunicação, Imobiliário, Shopping Center e Vinicultura. Já presidiu a Associação Brasileira de Supermercado, foi integrante do Conselho Monetário Nacional e, atualmente, participa da Associação Nacional de Jornais e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.

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